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sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Homem sem Sombra (I)

25 de junho de 2012

Estou cansado de guardar meus segredos, cansado da solidão de minhas mentiras. O fato é que a verdade sobre minha vida é estranha e inconveniente. Na verdade, inverossímil seria uma boa descrição para ela.

Ninguém nunca acreditará no que aconteceu comigo, isso é um fato. Contudo, isso não me impedirá de descrever como apenas um passo em falso acabou com minha vida, assim como esse fim demonstrou-se ser apenas o começo dos meus problemas.

Espero que alguém encontre esses relatos, mesmo que minha vida agora não passe de uma ficção. Mas certas coisas são tão incríveis que merecem ser lembradas.

Na esperança de que alguém tenha encontrado meus pensamentos, peço licença a você leitor, para que voltemos ao começo desta história.


de volta à 2008

Meu nome é Carlos.

"Quem sou eu?", perguntava-me enquanto olhava no espelho. Era decepcionante - Odeio o seu semblante exposto em meu reflexo, sempre a olhar em meus olhos -" Como poderia não ser ninguém e ainda estar preso àquela figura magra de expressão vazia? "

"Não sou mais jovem como antes, estou prestes a fazer 21 anos. Os anos tem passado muito rápido, tenho medo que chegue o dia em que já não possa mais adiar o dia em que começarei minha vida. E não exista mais vida para ser começada."

Essa é uma boa visão do que existia em meu pequeno diário pessoal. É incrível como podemos ser tão bons em pensar as coisas mais cruéis sobre nós mesmos, nisso eu era extremamente bom.

Mas eu não era uma pessoa infeliz, tinha amigos. Eram poucos, mas eram os necessários como pude vir a entender algum tempo depois.

De qualquer forma, a única história que merece ser contada é justamente o que foi meu aniversário de 21 anos.

25 de junho de 2008

Era uma sexta-feira como todas as outras, tinha aula o dia inteiro, era meu primeiro ano como aluno de Direito assim como o primeiro ano em que pude ver como nosso tempo livre rapidamente se torna uma vaga lembrança de tempos remotos. Mas eu estava eufórico, iria matar as aulas à tarde.

Matar aulas era uma das atividades mais prazerosas da minha vida, principalmente quando era com Camila, uma das poucas pessoas necessárias em minha vida. Esquecíamos de nossa vida acadêmica enquanto andávamos por uma pequena praça que havia perto de casa.
- Feliz aniversário - Falou-me socando o braço.
- Você sabe que não gosto de aniversários, mas se vai dar parabéns pelo menos me abraça né porra?! - Ambos ríamos enquanto ela me dava um abraço sufocante.
- Carlos, posso te fazer uma pergunta?
- Mas você já fez uma idiota!
- Se lenhe! - dissera ela rindo - Mas sério, onde você se vê daqui a 21 anos? - "Eu teria 41 anos", pensava. Que tipo de vida levaria? Estaria trabalhando? Ainda haveria alguém em minha vida? A verdade é que provavelmente estaria no mesmo lugar que passara os 21 anos anteriores. Se não havia mudado até ali, por que mudaria? Com sorte seria um forever alone acumulador de gatos.
- Espero estar longe daqui, rico, com minha própria casa, um estúdio musical e três livros publicados - Menti a ela.
- Quando você chegar na parte do rico você volta a me procurar pra gente casar, tá? - Falou dando-me um leve tapinha na cara, ambos rimos.
Conversamos pelo o que se pareceram horas, sentados em um dos bancos da praça. Quando o sol já enfraquecia, fomos para a estação central para podermos ir pra casa.

Certas coisas acontecem muito rápido para se ter qualquer reação. Um motorista distraiu-se com o seu celular e subiu a calçada. Podia ver tudo acontecendo lentamente, como em meus pesadelos. Camila ficara um pouco mais atrás de mim, enquanto atendia um telefonema. Eu apenas vi os faróis vindo em minha direção, como se estivesse na beira de um abismo. Havia uma sensação louca enquanto via aquelas luzes se aproximarem. Um grito cortado no ar. E havia sido engolido pela escuridão.

"Liberdade"

mera ilusão.

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