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sábado, 5 de julho de 2014

O Homem sem Sombra (II)

6 de julho de 2008

Adoraria poder contar uma história na qual os anjos me levaram até o céu, ou como eu flutuava sobre o meu corpo, vivendo aventuras fantásticas de quase morte. Mas não, nada de fenômenos sobrenaturais para vocês, agradeçam por isso!

A verdade é que era como se ainda andasse pela praça, podia sentir Camila  logo atrás de mim ainda com telefone em seu ouvido. Por quê não podia enxergar ela? Estava cego?

Empreguei toda minha força para abrir os olhos, estava em uma total escuridão. Havia algo muito estranho tocando o meu rosto. Estava desesperado e impotente. Minha mente não pensava com clareza. Eu tinha certeza de que havia alguma coisa demoníaca sobre o meu peito, roendo vorazmente a minha carne. Era exatamente como em um sonho realmente ruim de um começo de noite.

Lentamente, pude erguer um pouco das minhas pálpebras. Tudo estava extremamente claro e embaçado. Seria assim ficar cego? Havia uma silhueta sobre o meu corpo, alguém estava tocando o meu rosto! Mas eu estava tão desesperado, que o meu corpo inteiro não reagia a qualquer comando. Ouvia gritos, mas não pude escutar suas palavras. Meu coração começou bater descontroladamente, meu corpo suava. Meu corpo começara a se chocar violentamente contra a cama. Rapidamente,  braços fortes  começaram a me segurar, haviam enfiado algo em minha boca. Por quê estariam me torturando? O que eu fizera de tão ruim para estar ali? Estava morrendo?

De repente senti um forte dor em meu corpo, todos os meus músculos se retesaram. Pontos brancos surgiram a minha frente. Mas o que aconteceu em seguida, me pareceu totalmente involuntário. Subitamente ergui meu tronco e vomitei. Vomitei como ninguém nunca vomitou. Era como um grito desesperado escapasse por minha boca. Um animal inteiro poderia facilmente ter escapado de meu estômago no meio daquela cena. Minha respiração começou a se normalizar e pude sentir meus olhos lacrimejando. Agora alguém começara a segurar  minha cabeça e injetaram alguma coisa em meu braço.

Foi extremamente perturbador, tudo o que havia do meu tronco para baixo estava, digamos, não muito apresentável depois do que aconteceu. Não preciso explicar a vocês como isso gerou outras três situações igualmente desagradáveis quando o cheiro daquilo alcançou o meu olfato.

Ironicamente, aquilo me fez despertar. Nunca tivera um olfato muito bom, na verdade ele era horrível. Minha rinite havia o deteriorado quase que completamente. Mas agora, pelo menos, podia enxergar um pouco melhor. Meus pensamentos fluíam com maior clareza, mas a claridade ainda fazia minha cabeça doer. Meu estado estava deplorável, me esforcei o máximo possível para não prestar atenção no que quer que fugira do meu estomago, despejado logo à minha frente.

Finalmente podia prestar atenção no que havia ao meu redor. Havia um técnico de enfermagem de cada lado de meu corpo e uma mulher, atrás de minha maca, aos prantos. Com certeza  estava em um hospital, pensava. Era muito fácil de reconhecer: as paredes coloridas criativamente com um branco monótono e misturadas com quadros de crianças fantasiadas de flores,  obviamente um leito de hospital. Vocês poderiam concluir então, com toda a lógica e segurança que a inteligência de seus cérebros podem permitir, que aquela mulher, que estava logo a minha frente, seria a minha mãe. Eu realmente queria que fosse ela,  mas você não faz ideia.

 Eu não fazia ideia de quem estava ali.


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