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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Desfechos

Afanásio olhou para o céu
Já em seus últimos suspiros.
O senhor do tempo estava prestes a morrer

E tudo quando a primaveira se acabou
E para sempre o inverno reinou em todas as terras
E assim os antigos contos foram esquecidos
Porém a última flecha de Apolo ainda brilhava
Negando com todas as suas forças o frio mortal do silêncio
E em suas memórias foi autografado uma antiga lei
Talvez a mais antiga do mundo:

"Uma vida por uma vida,
Uma alma por uma alma, pois assim foi um dia
A perdição de uns e a salvação de outros
Pois em todo fim há um começo para uma nova história
E assim a grande Ouroboros permanece tão real quanto antes."

Foi assim que um dos Grandes Valetes, talves o principal
Que levava o título de senhor do tempo, pois a tudo parecia saber
Foi levado para além das areias da vida.

sábado, 22 de maio de 2010

Exclamar

Talvez esse seja o momento em que diz:

"Existe pessoas de vários estilos
E as mais patéticas são aquelas que não sabem
Viver sem odiar a si mesmo por isso.
O curioso é se orgulhar, como se odiar a vida
Fosse algo nobre, oras senhoras e senhores!
Neste caso, que as favas vá então o drama!"

Mas é apenas uma das direções!

Esvaziar

Escrever,
Apenas e somente,
Quando tiver algo a acrescentar a vocês,
Minha platéia.
Agora o resto são somente ferramentas
Pois afinal de contas
As pontes costumam ruir como todo tipo de construção.

As falhas simplesmente existem
Por isso, os acertos.

sábado, 8 de maio de 2010

Veja: 27 de dezembro de 2000 (Coisas que deveriamos nos lembrar)

Soninha

Os jovens de hoje
e os mistérios de sempre

h, os jovens de hoje em dia... São alienados e egocêntricos, consumistas e irresponsáveis. Pensam apenas no próprio bem-estar. Não se interessam por política, não respeitam ninguém, não têm ideais.
O diagnóstico acima tem pelo menos vinte anos. Ou seja: é mais velho que "os jovens de hoje em dia".

Quando eu estava no ginásio, entre 1977 e 1980, já ouvia dizer que os jovens davam mais importância à marca da roupa que ao caráter. Que uma calça Fiorucci era mais apreciada que a beleza interior. Que o "ter" valia mais que o "ser".
Dizia-se também que a minha geração tinha trocado a cultura dos livros pela bitolação da TV. Que a música barulhenta alienava e ensurdecia ("Não se faz mais música de verdade!"). Que o sexo se tinha banalizado – as meninas não se preservavam e os meninos só queriam aproveitar-se delas. Que havia menos profundidade nas relações e mais futilidade. Muito disso era verdade, e continua sendo. Muito é exagero.
Rebeldia e individualismo
Os jovens do meu tempo têm sempre os anos 60 como modelo do que não fomos. Parece até que todos os jovens daquela década eram engajados na luta por liberdade e justiça. Não eram! Quantos jovens atravessaram os anos 60 alheios às manifestações por liberdade? Quantos trataram só de perseguir seu diploma, seu casamento, um emprego estável e a casa própria? Havia quem concordasse com aquele estado de coisas e quem ficasse indiferente, desde que pudesse tirar um sarro no carro do pai.
Costumamos jogar no mesmo barco dos anos 60 os protestos contra a Guerra do Vietnã, o movimento negro, as passeatas feministas e os festivais de rock (nos Estados Unidos) e a resistência à ditadura (no Brasil). Os clipes de imagens da época reúnem, freqüentemente, jovens seminuas com flores no cabelo e estudantes fugindo do gás lacrimogêneo, embora as reivindicações de uns e outros fossem completamente diferentes.
Entre aqueles que participavam, de fato, das passeatas e de outras manifestações, quantos não estavam pensando prioritariamente na própria liberdade, em seu tesão, em seu direito? Quantos, genuinamente, lutavam pelos direitos de todos? Quanto havia de altruísmo e quanto de individualismo? Quantos se deixaram levar pelo embalo e não sabiam muito bem o que estava acontecendo? (Não foram só os caras-pintadas do Fora Collor!)
Claro que muitos abandonaram seu conforto, suas horas de descanso e o abrigo seguro da indiferença para se arriscar seriamente na luta política. Expuseram-se a todo tipo de violência por seu ideal. Muitos morreram; muitos perderam amigos, parentes, a liberdade e até a pátria.
Hoje em dia, mais do que em qualquer época, é impossível dizer "os jovens são isso" (ou "aquilo"). O espectro que vai dos liberais aos conservadores, dos modernos aos antiquados, dos adesistas aos inconformados, dos antenados aos distraídos tem muito mais nuances.
Há jovens alienados agora, assim como havia antes. Há jovens equivocados e jovens esclarecidos. Há jovens altruístas e idealistas, como há ambiciosos e egocêntricos. Todos com muitas coisas em comum entre si...
A vontade de encher a cara ou de "fumar um" pode ser arrivismo ou existencialismo – mas não é nova. Aproveitar a efervescência dos hormônios e o tempo livre para fazer o que não se espera de um adulto sempre foi a palavra de ordem.
Se a música continua uma boa referência do que querem e sobre o que pensam os jovens, seu significado não é muito evidente – a mesma menina que se diverte com Planet Hemp e Charlie Brown Jr pode gostar de Hanson e Ivete Sangalo; o garoto que ouve um pagode romântico e "alienado" pode amar Thaíde & DJ Hum e Racionais MC's, Chico Science e Nação Zumbi, representando os pobres das regiões mais pobres do Brasil. Alguns jovens da periferia adoram Djavan e não têm o menor respeito por Caetano Veloso, mas quase todos reverenciam Legião Urbana.
Hoje, como antes, as aparências enganam. Há patricinhas engajadas, cujos brincos de argola emolduram preocupações sociais e a disposição para o trabalho voluntário. Sujeitos mal-encarados e assustadores podem ser absolutamente inofensivos, gentis e equilibrados. O garoto tatuado pode ser preguiçoso e descrente de tudo ou um esportista esforçado e focado em sua carreira. O vestibulando de direito pode ter o anseio de lutar pelos direitos das minorias ou pode ser machista e homófobo. Aquele que ostenta dúzias de piercings pode ter vontade de desafiar os mais velhos e os preconceituosos em doses iguais ao respeito e carinho que sente pela própria mãe. Talvez ele não queira fazer desafio nenhum e apenas se ache mais bonito assim.
De graça e sem graça
Embora hoje se fale muito mais sobre sexo e se estimule sua prática em todas as horas e lugares, das capas de revista aos comerciais de refrigerante, algumas coisas permanecem iguais entre quatro paredes cobertas de cartazes. Os meninos continuam com medo de falhar na primeira vez e de não corresponder às expectativas. As meninas têm medo de ser usadas, de fazer papel de trouxas. Os consultórios públicos se multiplicam, nas revistas, na TV e na internet, mas as perguntas são as mesmas de sempre: masturbação demais faz mal? Como saber se meu pênis é pequeno? Devo transar no primeiro encontro?
Os jovens podem falar muito mais de sexo, mas isso não significa que estejam fazendo tanto quanto falam. Beijar é muito mais fácil do que era antes, mas ir para a cama, não tanto. Meninos e meninas ainda têm vergonha até de pensar em tirar a roupa na frente de quem interessa, por mais bundas que haja em exposição. Há meninos românticos e meninas cruéis; meninos e meninas atirados e retraídos. Como sempre houve...
Mesmo que seja mais no falar do que no fazer, é uma pena que a vida sexual comece cada vez mais cedo. As relações precipitadas trazem o risco de gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e da falta de prazer. As meninas poderiam ter muito mais orgasmos com masturbação e bolinação que com penetração. Além disso, a sedução, a provocação e o jogo de aparências começam muito antes do que deveriam. Sobra cada vez menos tempo para ignorar as medidas "ideais", a bunda caída ou a roupa da moda. Para ser menina desencanada ou criança feiosa.
Muitas coisas ficaram mais fáceis e perderam boa parte da graça. Ninguém precisa esforçar-se para ver um peito de mulher. O pior é que a nudez não ficou mais natural. Ainda não podemos tirar o biquíni ou a camisa na rua. É o seio sedutor, que se oferece ao toque e ao desejo, que estampa os outdoors. Perdeu-se o mistério e não ganhamos liberdade. Era mais gostoso quando era um pouco mais difícil!
Outros sonhos também já foram mais distantes. Outro dia me lembrei de quanto tempo esperei até comprar um tênis de cano alto, próprio para jogar basquete. Foi uma glória, e era um Topper! Hoje em dia, ninguém quer menos que um tênis importado. Embora as perspectivas de trabalho e renda sejam mais estreitas, os sonhos se popularizaram. O consumo se apresenta exuberante, impositivo e tentador e seduz a todos, democraticamente (?). Mas não satisfaz nem a metade. Se, por um lado, é cada vez mais difícil encontrar uma praia deserta, por outro, milhares e milhares de jovens da periferia de São Paulo, a cento e poucos quilômetros do litoral, nunca viram praia alguma. A não ser no anúncio de sorvete na traseira do ônibus.
Os adultos de hoje em dia
Os jovens não são um povo alienígena nem uma sociedade à parte. Eles são parte da nossa sociedade – mais consumista, mais injusta, mais superficial e apressada. O que antes era sombria ameaça apocalíptica hoje já está em vigor. Falta emprego, a periferia explode em carências múltiplas, a violência toma conta. A ameaça ao meio ambiente tornou-se um perigo real e imediato. Os espaços de convivência rareiam. A família conversa menos, os vizinhos mal se conhecem, há menos tempo para o "nada" necessário para a reflexão.

Ilustração: Evandro Luiz
Quem é consumista e egocêntrico? Quem é comodista e não sai da frente da televisão? Uma parte dos jovens e uma grande parte dos ex-jovens. Os pais, os chefes, os adultos.
O mundo adulto está cada vez mais juvenil, no pior sentido. As pessoas resistem a qualquer coisa que lhes contrarie a vontade. O uso de camisinha é maior entre os mais jovens que entre os mais velhos (isso é estatística, não é palpite). Pense neste exemplo: nos últimos anos, os adultos ganharam um brinquedo de presente – um telefone sem fio, que fala em qualquer lugar. "Só não pode usar no cinema, no teatro e principalmente enquanto estiver dirigindo." O que fizeram com o celular? Transformaram o aparelho no melhor amigo do motorista. Não conseguem obedecer a uma regra simples e esperam que os jovens respeitem os limites.
Juventude? Isso passa
Tanto quanto eu sempre ouvi dizer que os jovens eram alienados, ouvi também que a minha vontade de mudar o mundo era típica dos jovens... E era só esperar um pouco que ia passar.
Há muitos e muitos jovens querendo mudar o mundo. Há mais deles tomando atitudes que em qualquer outro tempo – no movimento hip hop, em ONGs, nas escolas, na rua. Sozinhos ou em turma, os jovens se movimentam em nome de seus ideais.
Os jovens mais modernos não são aqueles que desconfiam de qualquer um com mais de 30 anos. Eles reverenciam os avós, repelem o machismo, têm consciência social. Valorizam tudo o que é genuíno, mesmo que não seja de seu gosto – de Jackson do Pandeiro a Bob Marley e Tim Maia. Fazem sites e fanzines, escrevem poesias, organizam eventos. E se prometem não mudar depois de crescer.
Música e política, sexo e responsabilidade, justiça social e meio ambiente... Apesar da desconfiança (e até má vontade) dos adultos, quer dizer, daqueles que eram jovens nos "mágicos" anos 60, boa parte dos jovens desta década está no caminho certo. Se aquela época pode ser representada por figuras tão diferentes como Janis Joplin, Martin Luther King, Pelé e Che Guevara, os jovens do fim do século podem ter como símbolos os Racionais MC's, Gustavo Kuerten e o logotipo da reciclagem. Acho que ainda vou tatuar um no braço.

Conclusão
Aos pais: os jovens valorizam o que é genuíno. Eles gostam dos avós, detestam o machismo e se preocupam com a situação social e o meio ambiente. Estão no caminho certo.



P.S: Não sei porque ficou com defeito nas margens, mas se fizer esforço dá pra entender. Está bem interessante a matéria!

domingo, 2 de maio de 2010

Sobre o gelo fino da vida moderna

Milhões de ideias se passaram ali desde então
Planos, conversas
Hipóteses que nunca aconteceram fora dali
Foi então que percebeu que ali teria tudo que sempre quis
Foi assim que sumiu dali
Ali então decidiu
Para sempre preso

Ir e vir

Olhou para algum lugar
Procurou por algo
Mas como achar algo que não sabe o que é?

O jovem-velho continuou então a caminhar
Continuando a cumprir o único objetivo
Caminhar pela vida

Ele aprendeu, renasceu e remoldou sua realidade
Mas sempre percebia que havia mais coisas para aprender e mais coisas para consertar
Mesmo depois de seu grande aprendizado ainda errava
O que fazer perante a isso?
Não viu opção, as coisas simplesmente eram!

Desde então decidiu não mais pensar
Não havia o que pensar, as coisas sempre teriam coisas
Então passou a viver
Cego pela a esperança e fazendo de tudo para ser feliz
Longe de dores.

Certamente é uma opção, mas será única?
Pode muito bem não ser real....

Centelha

Cegos, são
Não veem por mais perto que estejam
Preferem imaginar visões de lugares distantes
Que não existem
O absurdo é mais simples
Dão mais valor a coisas do que a si mesmo
E então culpam todos humanos
Pois afinal, o único culpado só poderia ser os outros, não?

Porém acusar não chega a ser uma solução
O correto seria procurar entender essas ações
Por que as coisas acontecem? Só porque as pessoas nascem ruins?
Isso é covardia, fugir da realidade por ser mais fácil
Poucos procuram entender seus ofensores em vez de agredi-los também.
Não é fácil, certamente se erra muito antes de aprender
Mas desistir é algo fora de questão.

O problema é sempre estar em "Quê" de acusação