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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Despedidas

Olhos, fechem-se lentamente
Ao som da minha melodia

cortinas agora se dobram
libertando-me de minha desalforria

,e se de repente é tarde
 a gente não sabia
imagina então a alegria!

mas entardece-se a maresia

e muito sorrateira, você se aproxima
como num compasso surdo e ouco
tudo já havia sido perdido 
junto com meu suspiro rouco

então, já distante
seu perfume se despia
era o início de uma tarde 
que se transformou
em
poesia
melancolia 


domingo, 6 de julho de 2014

Uma vida a viver
Uma prova a se perder

E não a mais nada a lhe dizer

sábado, 5 de julho de 2014

O Homem sem Sombra (II)

6 de julho de 2008

Adoraria poder contar uma história na qual os anjos me levaram até o céu, ou como eu flutuava sobre o meu corpo, vivendo aventuras fantásticas de quase morte. Mas não, nada de fenômenos sobrenaturais para vocês, agradeçam por isso!

A verdade é que era como se ainda andasse pela praça, podia sentir Camila  logo atrás de mim ainda com telefone em seu ouvido. Por quê não podia enxergar ela? Estava cego?

Empreguei toda minha força para abrir os olhos, estava em uma total escuridão. Havia algo muito estranho tocando o meu rosto. Estava desesperado e impotente. Minha mente não pensava com clareza. Eu tinha certeza de que havia alguma coisa demoníaca sobre o meu peito, roendo vorazmente a minha carne. Era exatamente como em um sonho realmente ruim de um começo de noite.

Lentamente, pude erguer um pouco das minhas pálpebras. Tudo estava extremamente claro e embaçado. Seria assim ficar cego? Havia uma silhueta sobre o meu corpo, alguém estava tocando o meu rosto! Mas eu estava tão desesperado, que o meu corpo inteiro não reagia a qualquer comando. Ouvia gritos, mas não pude escutar suas palavras. Meu coração começou bater descontroladamente, meu corpo suava. Meu corpo começara a se chocar violentamente contra a cama. Rapidamente,  braços fortes  começaram a me segurar, haviam enfiado algo em minha boca. Por quê estariam me torturando? O que eu fizera de tão ruim para estar ali? Estava morrendo?

De repente senti um forte dor em meu corpo, todos os meus músculos se retesaram. Pontos brancos surgiram a minha frente. Mas o que aconteceu em seguida, me pareceu totalmente involuntário. Subitamente ergui meu tronco e vomitei. Vomitei como ninguém nunca vomitou. Era como um grito desesperado escapasse por minha boca. Um animal inteiro poderia facilmente ter escapado de meu estômago no meio daquela cena. Minha respiração começou a se normalizar e pude sentir meus olhos lacrimejando. Agora alguém começara a segurar  minha cabeça e injetaram alguma coisa em meu braço.

Foi extremamente perturbador, tudo o que havia do meu tronco para baixo estava, digamos, não muito apresentável depois do que aconteceu. Não preciso explicar a vocês como isso gerou outras três situações igualmente desagradáveis quando o cheiro daquilo alcançou o meu olfato.

Ironicamente, aquilo me fez despertar. Nunca tivera um olfato muito bom, na verdade ele era horrível. Minha rinite havia o deteriorado quase que completamente. Mas agora, pelo menos, podia enxergar um pouco melhor. Meus pensamentos fluíam com maior clareza, mas a claridade ainda fazia minha cabeça doer. Meu estado estava deplorável, me esforcei o máximo possível para não prestar atenção no que quer que fugira do meu estomago, despejado logo à minha frente.

Finalmente podia prestar atenção no que havia ao meu redor. Havia um técnico de enfermagem de cada lado de meu corpo e uma mulher, atrás de minha maca, aos prantos. Com certeza  estava em um hospital, pensava. Era muito fácil de reconhecer: as paredes coloridas criativamente com um branco monótono e misturadas com quadros de crianças fantasiadas de flores,  obviamente um leito de hospital. Vocês poderiam concluir então, com toda a lógica e segurança que a inteligência de seus cérebros podem permitir, que aquela mulher, que estava logo a minha frente, seria a minha mãe. Eu realmente queria que fosse ela,  mas você não faz ideia.

 Eu não fazia ideia de quem estava ali.


sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Homem sem Sombra (I)

25 de junho de 2012

Estou cansado de guardar meus segredos, cansado da solidão de minhas mentiras. O fato é que a verdade sobre minha vida é estranha e inconveniente. Na verdade, inverossímil seria uma boa descrição para ela.

Ninguém nunca acreditará no que aconteceu comigo, isso é um fato. Contudo, isso não me impedirá de descrever como apenas um passo em falso acabou com minha vida, assim como esse fim demonstrou-se ser apenas o começo dos meus problemas.

Espero que alguém encontre esses relatos, mesmo que minha vida agora não passe de uma ficção. Mas certas coisas são tão incríveis que merecem ser lembradas.

Na esperança de que alguém tenha encontrado meus pensamentos, peço licença a você leitor, para que voltemos ao começo desta história.


de volta à 2008

Meu nome é Carlos.

"Quem sou eu?", perguntava-me enquanto olhava no espelho. Era decepcionante - Odeio o seu semblante exposto em meu reflexo, sempre a olhar em meus olhos -" Como poderia não ser ninguém e ainda estar preso àquela figura magra de expressão vazia? "

"Não sou mais jovem como antes, estou prestes a fazer 21 anos. Os anos tem passado muito rápido, tenho medo que chegue o dia em que já não possa mais adiar o dia em que começarei minha vida. E não exista mais vida para ser começada."

Essa é uma boa visão do que existia em meu pequeno diário pessoal. É incrível como podemos ser tão bons em pensar as coisas mais cruéis sobre nós mesmos, nisso eu era extremamente bom.

Mas eu não era uma pessoa infeliz, tinha amigos. Eram poucos, mas eram os necessários como pude vir a entender algum tempo depois.

De qualquer forma, a única história que merece ser contada é justamente o que foi meu aniversário de 21 anos.

25 de junho de 2008

Era uma sexta-feira como todas as outras, tinha aula o dia inteiro, era meu primeiro ano como aluno de Direito assim como o primeiro ano em que pude ver como nosso tempo livre rapidamente se torna uma vaga lembrança de tempos remotos. Mas eu estava eufórico, iria matar as aulas à tarde.

Matar aulas era uma das atividades mais prazerosas da minha vida, principalmente quando era com Camila, uma das poucas pessoas necessárias em minha vida. Esquecíamos de nossa vida acadêmica enquanto andávamos por uma pequena praça que havia perto de casa.
- Feliz aniversário - Falou-me socando o braço.
- Você sabe que não gosto de aniversários, mas se vai dar parabéns pelo menos me abraça né porra?! - Ambos ríamos enquanto ela me dava um abraço sufocante.
- Carlos, posso te fazer uma pergunta?
- Mas você já fez uma idiota!
- Se lenhe! - dissera ela rindo - Mas sério, onde você se vê daqui a 21 anos? - "Eu teria 41 anos", pensava. Que tipo de vida levaria? Estaria trabalhando? Ainda haveria alguém em minha vida? A verdade é que provavelmente estaria no mesmo lugar que passara os 21 anos anteriores. Se não havia mudado até ali, por que mudaria? Com sorte seria um forever alone acumulador de gatos.
- Espero estar longe daqui, rico, com minha própria casa, um estúdio musical e três livros publicados - Menti a ela.
- Quando você chegar na parte do rico você volta a me procurar pra gente casar, tá? - Falou dando-me um leve tapinha na cara, ambos rimos.
Conversamos pelo o que se pareceram horas, sentados em um dos bancos da praça. Quando o sol já enfraquecia, fomos para a estação central para podermos ir pra casa.

Certas coisas acontecem muito rápido para se ter qualquer reação. Um motorista distraiu-se com o seu celular e subiu a calçada. Podia ver tudo acontecendo lentamente, como em meus pesadelos. Camila ficara um pouco mais atrás de mim, enquanto atendia um telefonema. Eu apenas vi os faróis vindo em minha direção, como se estivesse na beira de um abismo. Havia uma sensação louca enquanto via aquelas luzes se aproximarem. Um grito cortado no ar. E havia sido engolido pela escuridão.

"Liberdade"

mera ilusão.